sexta-feira, 28 de maio de 2010

Tudo é relativo


Para mim, minha musa não tem nome, mas existe. Ela fica na janela todos os dias, como quem me espera passar. - Ou será sonho meu? - Meus versos são pra ela, meus passos me levam sempre àquela janela de onde ela entoa uma cantiga simples e sonha em se casar. - Será comigo? - Meu respirar é apenas o motor que me mantém vivo pra ela, enquanto ela, diariamente, trança os cabelos e espera... olha a lua e pede aos anjos que guardem seu amor até que ela possa descer da janela e correr para meus braços. - Ou talvez não seja nada disso! - Na verdade ela espera é por meu amigo, que passa sempre ali comigo, mas é ainda mais tímido que eu, e lhe escreve secretamente versinhos de amor, todas as tardes, após olhar aquela bela senhorita, imaculada, na janela. E espera.

foto: http://candy-eyed.deviantart.com/#/d2no8rg

segunda-feira, 15 de março de 2010

Madame Ilusão

Thiaguinho é um menino bom. Querido por amigos e familiares. Porém, é um menino implicante e reclamão. Reclama de tudo, até mesmo quando não tem razão. E implica com todos, até que percam a paciência com ele. A mãe sempre disse que ele é uma pessoa de desafios. Sim, ele desafia todo mundo, mas não quer brigar, quer apenas ver as pessoas saírem do sério por alguns minutos. Mas tem bom coração. Tem cara de sério. Começaram a chamá-lo de  Thiaguinho por ser o mais novo de todos da turma, mas o mais alto. Talvez fosse precoce, ele pesava às vezes. Sem encontrar solução para uma coisa que o inquietava, descobriu o reggae, e se descobriu. Mas como os amigos não curtiam a mesma coisa, ele escondeu. Ele gosta de ouvir reggae sozinho em seu quarto. É o único lugar onde se encontra realmente, com o som que lhe completa. Ele fecha os olhos e mergulha, se solta, sente os pés descalços pisando na areia da praia, sente o cheiro da fumaça das pessoas que estão fumando ao seu redor. Sente a música correr em suas veias como sangue. Se sente... A mãe diz que é música de drogado, que quem ouve esse tipo de som são aqueles caras que vivem nas ruas, largados, hippies sem emprego fixo e bebâdos. Thiaguinho não bebe, mas tem em seu quarto uma garrafa de tequila guardada, para quando precisar. Ele é muito precavido. Ele dança embalado por Planta e Raiz e imagina como ficaria se bebesse sozinho toda a tequila que fica olhando pra ele enquanto ele desliza pelo quarto como se estivesse flutuando ritmado por seu reggae companheiro... Mas a bebida é apenas para quando for necessário se embriagar. "Paz é a sensação que vem da mente ao coração, descontamina o ambiente, e vai emanando de gente pra gente..." E então ele pensa: quando? Quando saberei que estou precisando beber? Quando terei coragem de me embebedar até cair? Nunca. Mas o líquido mágico o chama, o domina, a música toca insistente, e ele desiste. Talvez agora seja uma boa hora, ou não, mas ele só vai saber se tentar. Então flutua até onde está a companheira de tantas ilusões desfeitas e decide soltá-la daquela prisão. Se ela foi feita para ser bebida e ficar naquela garrafa para sempre não terá seu destino completo. Leva a garra à boca, sem complexo e sem culpa. Remédio para todos os males. O primeiro gole queima Thiaguinho por dentro, queima sua virtude de menino bom e o transforma num espectro dançante naquele quarto que gira... gira... gira... Noites vazias voltam à sua memória, mas ele não lembra por que. Mais um gole. Vontade de dançar! E mais, e mais, e mais, ele pede que aquilo fique apenas entre eles, a Madame Tequila promete que sim. Ela agora é uma deusa, uma musa, uma cantora de reggae linda e sóbria ao lado dele, sorrindo pra ele, enquanto ele sente que o chão está ficando mais distante... Thiaguinho ouve as asas das borboletas que passam bem perto de seus ouvidos, e sente na ponta de seus dedos as pequenas mãos das ninfas douradas que o conduzem para um paraíso cintilante. Ele pede pra mãe não apagar a luz, mas tudo fica mais escuro a cada segundo, e ele sente que o corpo quer se lançar num abismo sem fim. Mas ele não pode. O reggae está no fim. Thiaguinho desaba, bate a cabeça no assoalho. Só se lembra da mãe chamando seu nome por trás da porta do quarto. Ah Tequila! Jamais me enganará assim outra vez.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O que te assusta?

Eu fico aqui, parado, de braços abertos, olhos vidrados. Queria sim poder me mover, ir a outros lugares, ter outras pessoas ao meu redor, mas fui concebido para assustar. E essa tem sido minha rotina desde sempre, assusto quem se aproxima e nada muda... meus braços ainda estão abertos, meus olhos ainda estão vidrados. Minha boca foi desenhada assim, como se eu estivesse sempre gritando uma vogal muda, que nunca cessa e nunca sai verdadeiramente por meus lábios... que lábios? Ás vezes sinto como se os tivesse, não é engraçado? Uma menininha loira passou por aqui certa vez e disse: - Senhor espantalho, quer tomar chá comigo? – Ah, quem me dera! Mesmo com o sol que me castiga sem piedade eu queria poder tomar aquele chazinho com ela, carinha de anjo. Mas nada muda, ainda estou aqui, de pé, braços abertos, olhos vidrados... Chove, venta, faz frio e minha roupa começa e ficar puída. Nem a vista muda, é sempre o mesmo campo imenso e sua plantação florescendo. Será que eu sei andar? Será que eu seria capaz de chorar se quisesse? Não tenho coração para ser partido, portanto, não tenho sentimentos. A noite vem, e meus olhos vidrados. Amanhece, e meus braços abertos. Nunca muda. Se eu saísse daqui, e caminhasse pelo mundo, será que me sentiria tentado a retornar a essa vida ocre? Ainda que meus braços nunca se fechem, me sinto bem em cumprir meu papel. Assusto qualquer um que se aproxima sem necessidade. E assusto mesmo. Não tenha pena de mim, eu fui concebido para assustar, e o faço diariamente. E você, foi concebido para quê?

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A redação

A professora mandou que os alunos fizessem uma redação, mas como ela já sabia que eles não gostavam muito disso, ela propôs que eles contassem uma história bem curta. Foi uma idéia ótima, pois os alunos ficaram empolgados e começaram logo a escrever suas redações. A professora ia passando entre as filas de carteiras e observando o trabalho de seus alunos, quando passou por um deles que estava rindo sozinho. Ela se aproximou dele e perguntou por que ele ria, e ele respondeu que estava sem nenhuma idéia para escrever. Mas a professora olhou a folha de redação e tinha alguma coisa escrita nela. Ela pediu para ler e qual não foi sua surpresa ao ver o conteúdo do texto. Dizia:

“Uma vez minha professora pediu para eu fazer uma redação contando uma história. Como eu não gosto muito de escrever, não consegui pensar em nenhuma história legal para contar. E a professora era tão boazinha que não me deu nota zero por isso.”


A professora tem a folha com o texto escrito pelo aluno guardada até hoje.



J. Masen

Welcome

A chegada é uma coisa intrigante, pode ser boa ou ruim, mas não importa. O que importa é que sempre seremos bem recebidos, como aqui em SUAS HISTÓRIAS.