terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O que te assusta?

Eu fico aqui, parado, de braços abertos, olhos vidrados. Queria sim poder me mover, ir a outros lugares, ter outras pessoas ao meu redor, mas fui concebido para assustar. E essa tem sido minha rotina desde sempre, assusto quem se aproxima e nada muda... meus braços ainda estão abertos, meus olhos ainda estão vidrados. Minha boca foi desenhada assim, como se eu estivesse sempre gritando uma vogal muda, que nunca cessa e nunca sai verdadeiramente por meus lábios... que lábios? Ás vezes sinto como se os tivesse, não é engraçado? Uma menininha loira passou por aqui certa vez e disse: - Senhor espantalho, quer tomar chá comigo? – Ah, quem me dera! Mesmo com o sol que me castiga sem piedade eu queria poder tomar aquele chazinho com ela, carinha de anjo. Mas nada muda, ainda estou aqui, de pé, braços abertos, olhos vidrados... Chove, venta, faz frio e minha roupa começa e ficar puída. Nem a vista muda, é sempre o mesmo campo imenso e sua plantação florescendo. Será que eu sei andar? Será que eu seria capaz de chorar se quisesse? Não tenho coração para ser partido, portanto, não tenho sentimentos. A noite vem, e meus olhos vidrados. Amanhece, e meus braços abertos. Nunca muda. Se eu saísse daqui, e caminhasse pelo mundo, será que me sentiria tentado a retornar a essa vida ocre? Ainda que meus braços nunca se fechem, me sinto bem em cumprir meu papel. Assusto qualquer um que se aproxima sem necessidade. E assusto mesmo. Não tenha pena de mim, eu fui concebido para assustar, e o faço diariamente. E você, foi concebido para quê?